Ieprol – Matrículas Abertas – Desktop Mobile
sicoob
Plansul – 31 anos – Desktop/Mobile

CASO DE RACISMO ENVOLVENDO ITABUNENSE SERÁ INSTRUÍDO NO PRÓXIMO DIA 11, EM SALVADOR

O fato aconteceu em 2011. Dos relatos que se extraem dos registros policiais, uma mulher branca, dirigindo em pleno trânsito de Salvador, teria reconhecido Marcos Costa, técnico agrícola, ex-funcionário público do Município de Itabuna, atualmente trabalhando numa empresa de paisagismo soteropolitana, residindo em Salvador há 25 anos. Para ela, ele figurara como autor dos disparos que teriam sido feitos contra ela e seu esposo, naquela cidade.

À época, “Marcão”, como é conhecido entre os amigos e no trabalho, já se despedira do seu ofício em Itabuna, para atuar na capital baiana. Morando e trabalhando lá, num desses meses de dezembro, perto do Natal, teve sua casa invadida pelos policiais, às 6h da manhã, com um mandado de prisão contra ele. Retirado do seu recinto e levado  para a delegacia, sem sequer saber de fato e de direito o que estava acontecendo.

Por mais que não tivesse oferecido resistência e ter se identificado como trabalhador, nada disso foi suficiente para que se retirasse dele, um homem preto, de bem, trabalhador e cidadão que contribui com a sociedade, a autoria de disparos de arma de fogo há um ano e meio da data daquela invasão.

Na polícia, a acusadora, aquela mulher de pele branca, um dos alvos dos disparos, dissera que Marcão era o negro que estava em um carro Uno que saíra do então Shopping Iguatemi, atualmente Shopping da Bahia, entrando numa contramão com o intuito de tirar-lhes a vida.

Marcão fora apontado como o autor dos tiros. Pela mulher. Foi indiciado. Pela delegacia de plantão. Ficou preso por quatro dias. Por falhas da Justiça. O seu indiciamento foi aceito pelo Ministério Público. Pelas lacunas vazias que teimaram e teimam até hoje em reconhecer que aquele homem preto é inocente. Sequer, fora escutado. E está nos registros judiciários da Bahia como um caso ainda sem quaisquer definições. Porque o sistema brasileiro é falho. Cisma em, às vezes, ouvir somente o branco que acusa e não ouvir o preto que tenta se defender.

Livre após 4 dias de muito desespero, voltou para Itabuna para ficar perto da família, por alguns dias. Hoje, reconhece que “apesar de 13 anos, é uma dor que dói muito ainda”.

“Eu sou Marcão, que passou pela Prefeitura de Itabuna. Minha história de jardinagem e paisagismo tem 30 anos. Vi muitos prefeitos passarem por mim e todos reconheceram o meu trabalho. Fui para Salvador a trabalho. Um amigo chamado Alex me disse que no dia em que pudesse me levar para Salvador, me levaria, e levou. E o que aconteceu comigo foi o que fez com que eu me percebesse como preto e a violência do racismo contra mim. O meu carro, ninguém sabe o quanto eu me esforcei para comprar”. Assim relatou Marcão aos âncoras Ricky Mascarenhas e Naty Almeida, no programa Café iPolítica na Boa FM 96.1 do último sábado, 1º/06.

No próximo dia 11 (terça-feira), acontecerá a Audiência de Instrução sobre o caso, que definirá pontualmente quais serão os desdobramentos.

“Eu tive uma educação esmerada. Hoje eu sei chegar nos lugares, sei como me comportar, sou a amabilidade em pessoa, nunca fui descortês com ninguém. Fico imaginando o que aconteceria comigo se eu reagisse naquela situação”, concluiu, não sem deixar de registrar as frases que, para ele, apontam a força do seu caráter e a fragilidade à qual os pretos da Bahia estão suscetíveis: “Tudo no meu caso é pautado somente no que a senhora falou. Nos privilégios. Os lugares onde ela estava, eu não podia estar. Porque eu causava traumas nela. Mas ninguém nunca perguntou quais traumas isso causou em mim”, voz embargada.

O programa Café iPolítica na Boa FM, que vai ao ar todos os sábados, das 8h às 10h, acredita na inocência de Marcão e que, à luz da audiência que acontecerá nos próximos dias, o caso será não somente encerrado, como haverá de acontecer a devida reparação, se é que é possível observar como um caso como esse pode ser reparado. O apoio é do Boteco Gaúcho.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.