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EM SÍNTESE, ACM NETO PERDEU PARA QUEM?

Por José Cássio Varjão*

Todo percurso político, desde as escolhas dos candidatos até o dia das eleições e, posteriormente, com os mandatos eletivos, é permeado por erros e acertos. Alguns erros podem ser corrigidos a tempo, entrar no rumo certo, no caminho ideal, mas, há erros que custam a vitória e repeti-los como diz o ditado popular, não será mais um erro, será uma decisão.

No final de 2014, alguns dias após a vitória de Rui Costa para o governo da Bahia, eu estava com uns amigos no Beco do Fuxico, conhecido ponto de encontro de amigos e famoso pela festa carnavalesca que anualmente, antes do carnaval, leva milhares de pessoas ao cruzamento da Travessa Adolfo Leite e Rua Rui Barbosa, no centro de Itabuna, quando, ao nosso lado, alguns senhores comentavam, com desaprovação, a vitória do desconhecido candidato petista em detrimento a Paulo Souto/DEM, candidato derrotado.

De forma respeitosa, entrei, ou invadi, na conversa alheia e argumentei sobre o assunto, observando o resultado das eleições por outra ótica, diferente da deles. Lembrei que Paulo Souto, ex-governador da Bahia por dois mandatos, tinha disputado as últimas três eleições para o governo do estado e perdeu em todas as oportunidades, sendo duas para Jaques Wagner e naquele ano para Rui Costa. O primeiro parágrafo faz sentido nesse caso, afinal, o grupo político baiano denominado Carlismo, poderia trazer outro nome para a disputa, portanto, foi uma opção deliberada, sem nenhuma originalidade.

Em 2014, após ser derrotado por Dilma Rousseff na eleição para a presidência da república, Aécio Neves, em seu primeiro discurso no Senado Federal, dia 05 de novembro de 2014, prometeu “fazer uma oposição incansável, inquebrantável e intransigente na defesa dos interesses dos brasileiros, fiscalizando, cobrando e denunciando o governo eleito”, que segundo ele, “escondeu o rombo nas contas públicas e a necessidade de ajustes de tarifas”, concluiu. Fonte Agência Senado. Errou, na medida em que capitaneou, junto com Eduardo Cunha, uma oposição implacável, com as chamadas “pautas bomba”. Naquela ocasião, pós eleição, o ex-governador de Minas Gerais tinha o cacife necessário para se manter em evidência, agindo com a prudência e a cautela que aquele momento demandava e se tornaria naturalmente o candidato do PSDB em 2018. Faltou-lhe a sobriedade do avô Tancredo Neves, afogando-se no próprio veneno. Desde 2018, é deputado federal pelo estado de Minas Gerais e nas eleições de 2022 obteve 85.341 votos, o 34º colocado dentre os 53 eleitos, 21.361 votos a menos que em 2018.

Após a renúncia do senador Antônio Carlos Magalhães em 2001, por quebra de decoro parlamentar pela violação do painel do Senado, José Sarney, então senador, amigo de longa data de Jader Barbalho, o aconselhou a não disputar a presidência da casa em substituição a ACM. O senador, eleito pelo estado do Pará, fez ouvidos moucos, ganhou a eleição se tornando o 58º parlamentar a ocupar a presidência do senado desde 1824. Liderou o Senado por somente 10 meses e renunciou acusado de tráfico de influência e desvios de recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM – e do Banco do Estado do Pará – BANPARÁ –, no valor de R$ 1,7 bilhão. Assim como ACM, renunciou ao mandato para não ter os direitos políticos cassados. Correligionários pelo PMDB, o conselho de Sarney tinha a intenção de evitar que Jader Barbalho ficasse exposto e entrasse no olho do furacão. Foi traído por outros, porque “na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem”, Victor Lasky.

Nas eleições de 2022, o Partido dos Trabalhadores de São Paulo fez uma avaliação, no início da campanha, sobre os adversários, que posteriormente se mostrou imprecisa. A cúpula petista julgou que o candidato ao governo do estado Fernando Haddad, deveria centrar suas inquirições no candidato à reeleição Rodrigo Garcia, pelo fato de o adversário poder usar a máquina estatal na sua campanha. Resultado, inflado pelo voto casado com seu padrinho político, Jair Bolsonaro, Tarcísio Freitas foi para o segundo turno como primeiro colocado na primeira volta da disputa, com 1.544.856 votos a mais que o candidato do PT. No segundo turno foi eleito com 2.428.082 acima de Fernando Haddad.

A partir de uma entrevista que ACM Neto deu a um podcast, no dia 16.01.23, quando respondeu afirmativamente a uma pergunta do entrevistador, acreditando ter perdido a eleição para Lula e não para Jerônimo na disputa para o governo da Bahia, comentários e hipóteses são expostos e os ânimos ficaram acirrados, levando o presidente do Partido dos Trabalhadores, Éden Valadares, a se manifestar publicamente.

137 dias antes das eleições, em 18 de maio de 2022, escrevi um texto com o título, Até Então, só Conjecturas! (texto completo em https://politicaeopiniao.blog.br/ate-entao-so-conjecturas/ ) afirmando que o único cenário plausível para o momento político na Bahia, era que o candidato Jerônimo Carvalho iria crescer nas pesquisas, que acordos e movimentações políticas ainda seriam feitos até 15 de agosto, data de registro das candidaturas e, com o início da propaganda eleitoral, em 16 de agosto, o cenário real iria tomar forma.

Num primeiro momento, citei a avaliação do governador Rui Costa, com base numa pesquisa Genial/Quaest, entre 16 e 19 de março, com 1140 eleitores ouvidos. Naquele momento, 44% avaliaram positivamente, 33% avaliaram regular e 16% avaliaram como ruim o gestor do estado. Rui Costa obteve 77% de opiniões positivas e regulares. Dentre os 4 maiores colégios eleitorais do Brasil, o governador da Bahia foi melhor avaliado que os governadores de SP, MG e RJ.

Em 18 de maio, o mesmo instituto divulgou pesquisa para o governo baiano com ACM Neto/UB com 67%; Jerônimo Rodrigues/PT com 6% e; João Roma/PL com 5% das intenções de voto, porém, 52% dos entrevistados disseram que o seu voto para governador não era definitivo. Aqui surge o primeiro indício que aquele cenário era irreal. Nessa mesma época, para a presidência da república, a pesquisa mostrava que o candidato do PT tinha 62% das intenções de voto na Bahia. Após a conclusão daquele texto, saiu a primeira pesquisa para o governo do estado, ligando Jerônimo a Lula e o resultado foi: ACM Neto caindo 20 pontos percentuais, com Jerônimo Rodrigues subindo 28 pontos percentuais. Portanto, naquele estágio, o placar foi de 47% X 34%. Até ali só conjecturas! Lula do PT obteve 72,12% dos votos na Bahia, no segundo turno.

Com o registro das candidaturas e o início da campanha eleitoral, a visibilidade dos candidatos apoiados por Lula melhorou exponencialmente, dando novo rumo às campanhas. Nomeadamente com relação à Bahia, todo o mundo político baiano sabe que o candidato do União Brasil se absteve de apoiar oficialmente alguma candidatura à presidência da república, abocanhando votos dos dois maiores postulantes ao Palácio do Planalto. Como o herdeiro político de ACM imaginava que ganharia a eleição no primeiro turno, no segundo turno ficou entre a cruz e a espada.

O percentual de votação de ACM Neto no primeiro turno foi de 40,80% e João Roma 9,08%, que, somados, perfazem 49,88% dos votos. Se entrarmos no campo das suposições, entre o primeiro e o segundo turnos, ACM Neto teve um acréscimo de votos na casa de 6,41%, ou seja, 70,59% dos votos de João Roma, que, por ser o candidato de Bolsonaro, hipoteticamente não deu votos a Jerônimo Rodrigues. O candidato do PT teve um acréscimo de 3,34% no segundo turno com relação ao primeiro. Nesse contexto, não parece plausível que o eleitorado de João Roma, beirando sua totalidade, migrou para o candidato do UB e a diferença, a maior que candidato do PT teve entre o primeiro para o segundo turnos, veio quase na sua totalidade de ACM Neto?

Uma das maiores virtudes do ser humano é a renúncia. Na política, certas avaliações não podem ser ditas em público, e ACM Neto sabe que num primeiro momento se beneficiou da “casadinha” com Lula, mas em seguida pagou o preço por esse movimento.

Dentre os derrotados na campanha eleitoral 2022 para o governo da Bahia, além de ACM Neto, destaque para João Leão/PP, que trocou seis por meia dúzia, já que jogou Cacá Leão aos leões (valeu o trocadilho) na disputa com Otto Alencar/PSD e à família restou um mandato de deputado federal.

Jerônimo Rodrigues foi eleito governador da Bahia, dando continuidade aos 16 anos de governos petistas no estado e contando com o reconhecimento do trabalho e com a popularidade do governador Rui Costa, a experiência e o conhecimento político de Jaques Wagner e o apoio incondicional do PSD de Otto Alencar, que correram os quatro cantos da Bahia, apresentando Jerônimo ao eleitorado. Fundamentando a narrativa acima, o lançamento da candidatura de Jerônimo foi em 31 de março, no espaço Wet Salvador, com as presenças de Lula e da cúpula do PT, e as pesquisas citadas nesse texto ocorreram em maio. Além disso as inquirições da Genial/Quaest foram feitas sem citar o nome de Lula.

A força política de Lula é incontestável e ficou demostrada nas oportunidades que ele esteve em Salvador, levando multidões às ruas. Mas, na minha opinião, o fator preponderante, que contribuiu para a vitória petista, foi o acordo firmado com o MDB, lançando como candidato a vice-governador, o presidente da Câmara Municipal, Geraldo Júnior, que foi o coordenador da campanha de Bruno Reis/UB à Prefeitura de Salvador em 2020. Um dos papéis relevantes de Geraldo Júnior na campanha foi se contrapor a ACM Neto em Salvador, evitando, assim, que o ex-prefeito tivesse margem expressiva de votos na cidade.

A prova dos nove desse imbróglio nós saberemos em 2026. Lembrando que em 2018 o ex-prefeito de Salvador preferiu não entrar em disputa com Rui Costa e mandou Zé Ronaldo para o embate. Até lá vamos com suposições e os pitacos de lado a lado e, com o futuro a nosso dispor, teremos bastante tempo para isso.

*José Cássio Varjão – Cientista Político, Membro da Associação Brasileira de Ciência Política

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