A EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL
O fragmento de um provérbio oriental que afirmar o seguinte: “… tempos difíceis geram homens fortes” Não consigo para de pensar nesse processo de isolamento social como um desses “tempos difíceis”, esse momento tem mostrado que não possuímos a menor estrutura política, humana e social para vivenciá-la, ou seja: de alguma forma, somos fruto de “tempos fáceis”. Podemos elencar inúmeros desafios que estamos enfrentando, entretanto, como acadêmico prefiro me colocar a questões que estão dentro de minha linha de pesquisa, no caso a educação tecnológica, e seu processo de inserção – meio que forçosa – no modelo formal de educação.
O sistema educacional, a escola, os gestores, professores, alunos e pais estão vivendo nesse momento de isolamento social – que muitos insistem em chamar de quarentena – uma dinâmica bastante ímpar, onde até mesmo os críticos mais ferrenhos da Educação a Distância (EaD) inclinam-se as tecnologias da comunicação e informação, para que o sistema educacional não pare. Desde a antiguidade haviam escolas, podemos citar por exemplo as escolas dos gramáticos da Grécia clássica e as escolas paroquiais da Alta idade Média, porém o sistema de educação tradicional – ao qual estamos acostumados – surge no contexto da reforma protestante, quando se pensa em dar acesso à leitura a uma parcela maior da população, ensinando a esses jovens mecanismos da cultura letrada e hábitos de convivência em sociedade.
Por incrível que pareça esse modelo de educação conseguiu permanecer com poucas alterações até os anos 60 do século passado, porém dando claros sinais de que estava em decadência. Voltando para o século XXI fica mais evidente ainda esse aspecto de que “algo não está indo bem”, a escola não é mais a mesma, ou no discurso dos docentes com mais anos de profissão e tradição: “os alunos não são mais os mesmos! ”, evidente que não, os novos alunos são filhos de novos tempos. Atualmente já pensamos no conceito de Educação 4.0, em dinâmicas educacionais como a “sala de aula invertida” e “ensino híbrido”, todos tem como ponto comum a inserção da Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs).
A inserção dessas tecnologias já vem sendo pensada por educadores e teóricos desde a década de 1990, porém na prática a escola vem sempre buscando uma forma de adiar essa inserção, e em 2020 como um encontro inevitável, senão dizer: inadiável, o COVID-19 obriga todos os personagens do cenário educacional a se render a essas “novas” tecnologias. O celular que por muitas vezes era visto como um vilão no contexto educacional, passa a ser um dos principais instrumentos para conectar aluno-escola-professor. As plataformas de videoconferência nunca foram tão requisitadas, aplicativos antes esquecidos foram ressuscitados, as plataformas tiveram que se adequar à grande demanda, e enfim… a escola mudou! A escola passou – obrigatoriamente – de um sistema arcaico a uma dinâmica “inovadora”.
A escola mudou… Professores passaram a se debruçar em livros, computadores e celulares para formular o melhor conteúdo e apresenta-lo de forma mais eficaz a de dinâmica a seus alunos. Gestores e professores passaram a ser – além de todas as funções que exerciam no contexto presencial de educação – entusiastas dos recursos tecnológicos, buscando novos recursos para incrementar suas aulas. E os alunos, também mudaram? O processo de adequação também foi absorvido pelos alunos? Infelizmente como Educador e pesquisador na área de Educação Tecnológica posso afirmar que não existe uma generalização, muitos jovens estudantes ainda não perceberam que o isolamento social não são férias, e que a “máquina educacional” continua funcionando, com uma única diferença: A distância!
Nesse contexto de Educação a Distância, professores nas telinhas, atividades com prazos mais estendidos, e avaliações diferenciadas, bem como uma nova exigência: a autogestão. A partir de agora a responsabilidade com o tempo é mais um instrumento do material escolar de nossos estudantes, a partir daqui ele tem horário para assistir seus professores ao vivo, porém ele é líder de si para decidir o melhor momento para fazer suas atividades e pesquisas, assim forma-se o conceito da sala de aula invertida: o lar passou a ser o espaço de construção de conhecimentos e a “escola 4.0” passou a ser um espaço para tirar dúvidas e levantar novas questões, e nesse ponto surge uma “nova” e “eterna” necessidade, a participação dos pais na educação de seus filhos, aproveitando esses tempos difíceis para formar homens fortes.
*Professor
Excelente reflexão