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O LEGISLADOR E O DISCURSO ESCRAVAGISTA

Por Marcos Dantas*

A população brasileira acompanhou estarrecida um dos maiores escândalos trabalhistas envolvendo grandes empresas que recrutaram trabalhadores nordestinos com a promessa de prosperidade através do trabalho, quando na verdade a prática de analogia à escravidão era o fator crucial para o sucesso dos negócios dessas organizações.

Vinícolas bastante conhecidas – Aurora, Garibaldi e Salton – utilizavam de práticas insalubres para manter cerca de 240 trabalhadores em condições sub-humanas que além de não respeitarem os direitos trabalhistas, submetiam essas pessoas ao desprovimento de direitos humanos, em condição de exploração e com ausência de qualidade de vida. Na Serra Gaúcha, o sonho desses trabalhadores se tornava pesadelo através do processo de neoescravidão em busca do lucro.

Diversas foram as matérias em sites, publicações nas redes sociais e notas de repúdios publicadas por inúmeras personalidades. Políticos, organizações de setores da sociedade, a grande mídia, a mídia independente e pessoas famosas, lamentaram o fato de que os trabalhadores em questão exerciam suas profissões atendendo situações que podem ser classificadas como neoescravidão.

Dentre os posicionamentos que conseguiram maior alcance nas redes sociais, o mais contundente e repugnante foi produzido pelo vereador Sandro Fantinel que foi expulso pelo partido Patriota do qual fazia parte quando concedeu as declarações xenofóbicas, escravagistas e racistas. Em um discurso na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul (RS), Fantinel utilizou de seu tempo por direito para atacar os trabalhadores que conseguiram fugir dos galpões em que estavam alocados em condições insalubres enquanto escravizados.

Questionando se “o patrão deveria pagar empregada para fazer limpeza para os bonitos”, em analogia às condições de sujeira em que se encontravam os trabalhadores explorados, o vereador começou uma série de ataques indagando se era necessário “colocar os trabalhadores em hotéis 5 estrelas para evitar problemas com o Ministério do Trabalho”.

Referindo-se a “aquela gente lá de cima” – em alusão à trabalhadores nordestinos – Sandro Fantinel sugere que os agricultores gaúchos contratem argentinos para suas empresas, ao mesmo tempo que, distribui ódio aos baianos indicando que a “única cultura que esse povo tem é viver na praia batendo tambor”. Caro(a) leitor(a), evitarei continuar a apresentar no texto as falas que ofendem cultura nordestina e baiana.

A função nobre de um(a) vereador(a) está basicamente acerca do serviço à população de um município. Quando analisado de forma mais profunda, percebe-se que esse servir está atrelado a elaboração e análise de projetos, discussão, votação ou rejeição de leis que atendam o interesse da coletividade. O que o vereador Sandro Fantinel decidiu proferir no seu discurso não deveria se sequer cogitado por uma personagem tão importante para o crescimento da coletividade de um município.

Demonstrando total desprezo com as condições de vida que os trabalhadores baianos estavam enfrentando, o vereador que precisaria colocar-se ao lado das pessoas que eram as vítimas, preferiu estar ao lado dos algozes daqueles que sonhavam com um futuro próspero e que foram enganados sofrendo variadas agressões aos direitos e à vida. O vereador Sandro Fantinel tornou-se porta voz de um caso horrendo que deve ser combatido por todos os setores da sociedade brasileira.

* MARCOS DANTAS – CIENTISTA SOCIAL LICENCIADO PELA UESC-BA.

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