O TAPETE VERDE DA MORTE: UM SINAL EVIDENTE DA FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO
Por Roberto José
Aproveitando a preocupação do meu amigo Carlos Mascarenhas com a chegada em grande volume de plantas aquáticas, conhecidas por “macrófitas aquáticas” ou popularmente BARONESAS, as praias de Ilhéus que por certo gerará transtornos a economia e ao turismo de Ilhéus, segundo pontuou Mascarenhas. Entretanto, quero pontuar neste texto, as causas e consequências a aqui para a Cidade de Itabuna, que é infinitamente mais danosa, não as belas macrófitas, mas a falta de tratamento de esgoto sanitário, fruto de escolhas nefastas da (in)gestão pública itabunense.
Estas plantas são naturais de rios e lagos no Brasil, podendo ser utilizadas como biofiltros para a remoção de microrganismos patogênicos da água, especialmente no tratamento das águas cinza e negra. Isso se dá pela alta concentração de matéria orgânica, permitindo a liberação de um efluente com menores níveis de contaminantes em corpos receptores ou melhorando a qualidade da água a ser reutilizada. Assim, estudos relacionados às macrófitas aquáticas demonstram que a produtividade primária destes vegetais está diretamente relacionada à temperatura, luminosidade e com a disponibilidade de nutrientes, neste último caso, diga-se esgoto doméstico não tratado.
Entretanto, o problema é a multiplicação desordenada dessas plantas por grande quantidade de volume de esgoto nos corpos aquosos, como é o caso no espelho d´água do Rio Cachoeira, na face urbana de Itabuna, que num curto espaço de tempo vai cobrindo todo o espelho d´água, dificultando a troca gasosa com o oxigênio atmosférico, e o pior ainda, consumindo todo oxigênio diluído nesse corpo d´água, gerando por consequência imediata, grande mortandade de peixes, entre eles os mais resistentes a situações dessa natureza, como o bagre e a tilápia, mal odor pela decomposição de matéria orgânica.
Ainda é importante destacar que Bacia do Rio Cachoeira integra dezenas de cidades, conforme mapa abaixo, confeccionado pelo PRODEMA – Programa de Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da UESC, já publicado neste espaço, em matéria anterior por Kaíque Brito, entretanto, o Município de Itabuna, no contesto de toda Bacia Hidrográfica em questão, é o grande responsável por boa parte do lançamento de esgoto sem tratamento no Rio Cachoeira.
Dessa forma, os despejos em água após sua utilização nos mais diversos usos. O esgoto sanitário em média é constituído de 99,9% de água e 0,1% são sólidos, e desses sólidos a sua maior parte é constituído de matéria orgânica em decomposição, assim, a mais completa ausência de saneamento básico em Itabuna, não trata mais que 15% de esgoto, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, conforme figura abaixo. Situação que lamentavelmente exerce papel negativo no desempenho escolar dos jovens e ainda gera prejuízos à economia, no parque econômico já instalado na cidade, e prejudicará investimentos futuros, por que empresários serão resistentes em investir em cidades com o perfil de Itabuna, com saneamento básico precário. Podemos, então nos questionar: por que cidades do entorno de Itabuna, crescemos muito mais que Itabuna nos últimos 10 anos, tais como Eunápolis, Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista?
Nessas condições, temos uma cidade doente e que não atrai investimento, logo não gera emprego e renda de forma satisfatória ao crescimento populacional, assim, temos aí um pano de fundo para prosperar a violência e o crime organizado do tráfico de drogas, que passar a ter um excelente atrativo, do ponto de vista, do comercio de narcóticos. Por fim, o mais completo e perverso ciclo de uma gestão temerária, nos mais diversos setores, mas especificamente gestão pública da saúde, onde há na verdade um desinvestimento na atenção básica de saúde, que por sua vez gera demandas na média e alta complexidade, lotando hospitais. Assim, seu mais aparente reflexo é a quantidade de farmácias que se instalam numa cidade em que não há saúde pública básica, assim, a população precisa fazer uso da automedicação. Nesse sentido, percebam também a multiplicação de policlínicas, “denominadas a preços populares”, uma oportunidade de negócio numa cidade em que a saúde pública está falida.
Para finalizar, nossa intenção aqui é chamar a atenção para os investimentos no saneamento básico, como forma de promover a saúde pública, mas também chamar a atenção de investir na atenção básica de saúde, o qual é o principal gargalo na gestão pública, então, é importante lembrar, que segundo dados da UNESCO, um dos mais caros procedimentos de alta complexidade paga mil procedimentos de unidade básica de saúde, a consulta com o médico generalista.
Possui Graduação em Geografia e Especialidade em Planejamento de Cidades pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), é Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), com ênfase em criminologia de ambientes. Especialista em Engenharia de Tráfego pela Uniyleia Brasília. Graduando em Direito pela FTC Itabuna. É Policial Civil da Bahia. Tutor de diversas disciplinas da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP. Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP. Membro da Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH. Consultor na área de gestão de espaço público, mobilidade urbana, espacialidade e violência, cultura e cidadania e análise estratégica de inteligência. Contatos: facebook: @robertojoseitabuna.