Por Larrissa Moitinho*
Não ousarei nominar as meninas e mulheres que nos últimos tempos tiveram suas vidas reviradas e expostas pelos julgadores de plantão do “fantástico e perfeito mundo da internet”.
Os fatos ainda me causam inquietações, inconformismo e inúmeras revoluções dentro de mim. Acredito que precisamos manter a nossa capacidade de nos indignar diante de injustiças e Violências e, de nos solidarizar diante das dores das nossas meninas e mulheres. Não podemos perder a nossa humanidade.
É preciso manter a marcha da luta feminista erguida, firme e inabalável. *Enfrentamos tempos de guerra contra o ser feminino.* É preciso desconstruir e abolir o Machismo Estrutural e a Misoginia entre nós. Sabemos pela história da Humanidade que quando uma Nação se encontra em crise os primeiros direitos a serem atacados são os direitos humanos, os direitos das mulheres, os direitos sociais.
Não podemos fazer um simples recorte e simplificar o debate. Atualmente, enfrentamos no Brasil uma crise ética, uma onda de preconceitos sem precedentes. Há uma lógica e um propósito para tamanha e irracional intolerância, ódio e misoginia contra nós mulheres. Precisamos GRITAR E AGIR contra tudo isso.
Assistimos nos últimos anos meninas e mulheres sendo revitimizadas e culpabilizadas por quadros do poder judiciário que deveriam garantir o seu amparo e o acolhimento.
Mulheres e meninas Negras assassinadas por apenas existirem, porque não há motivações e razões que justifiquem.
Também assistimos crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, estupro de vulnerável tipificado em lei, e ainda assim, sofrendo a revitimização, e o linchamento público por questões ideológicas de cunho religioso.
Assistimos mulheres da política tendo suas falas silenciadas e assediadas; colegas advogadas silenciadas em audiências, violentadas e agredidas fisicamente no exercício de suas atribuições no local de trabalho.
Assistimos…
Assistimos… assistimos a tudo isso do outro lado das telas da TV, computadores e celulares. Da nossa zona de conforto o que nos cabe é o julgamento ou a empatia e solidariedade. Mas o que estamos fazendo COM ESSAS DORES??
Por trás dessas dores EXISTEM mulheres e meninas violentadas, com suas intimidades violadas e saúde mental destruídas.
Em menos de uma semana dois fatos ganharam exposição nas redes sociais:
1- menina de 11 anos grávida de um estupro, sendo revitimizada por membra do poder judiciário, afastada do afeto da família e proibida de realizar o ABORTO LEGAL, que no seu caso, teria direito. O JUDICIÁRIO FALHOU; A SOCIEDADE FALHOU.
2- uma mulher de 21 anos, estuprada, revitimizada e exposta sobre as circunstâncias da gravidez e parto; “julgada” e “linchada” nas redes sociais por ter tomado a decisão que somente lhe cabia de optar pela DOAÇÃO LEGAL. A vítima MULHER, dona de seu próprio corpo e de sua vida privada, mais uma vez subjugada, revitimizada, penalizada. Mas ninguém falou de uma possível violência obstétrica que ela possa ter sofrido; ou da falta de ética profissional e do vazamento das informações sigilosas cometidos pelos profissionais de saúde envolvidos.
O ESTADO FALHOU; A SOCIEDADE FALHOU.
Tempos difíceis para nós mulheres; tempos perversos para as nossas meninas.
Não podemos sucumbir ao medo; não podem mais nos calar.
Por quê querem nos calar? A quem interessa esse silêncio?? Por quê questionar direitos já assegurados sobre o ABORTO LEGAL, questionar as mulheres sobre as circunstâncias de Violências e estupros sofridos??
Não podemos nos esquecer que somos maioria da população brasileira, maioria do eleitorado! Sabemos o que afeta as nossas famílias e o que necessitamos em nossos lares. A quem interessa nos violentar, nos calar??
É preciso lidar, GRITAR e agir diante das dores de ser mulher!
*Advogada familiarista, feminista, Conselheira Municipal da Mulher Itabuna, Presidenta da Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher OAB Itabuna e Apresentadora do Podcast Café Por Elas.
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